segunda-feira, 1 de junho de 2015

INSUFICIÊNCIA PANCREÁTICA EXÓCRINA- REVISÃO DE LITERATURA

Ariane Chaves Santos

1 – Introdução

            Em suas várias formas, a doença pancreática não é incomum em cães e gatos, podendo também ocorrer em outras espécies. O pâncreas em sua porção exócrina pode ser acometido por processos agudos e/ou crônicos, que podem desencadear problemas digestivos relacionados à insuficiência pancreática. 1
                A insuficiência pancreática exócrina (IPE) é uma enfermidade resultante da secreção inadequada de enzimas pancreáticas, provocando digestão incompleta dos alimentos e má absorção de nutrientes. Para que haja o desenvolvimento de tal patologia, é necessário que ocorra uma perda elevada e progressiva das células acinares, levando ao comprometimento da maquinaria enzimática. As principais condições pancreáticas que desencadeiam IPE são a atrofia acinar pancreática, pancreatite crônica e a obstrução do ducto pancreático. Podem estar relacionadas ainda, secreção excessiva de suco gástrico (que diminui a atividade das enzimas pancreáticas e aumenta sua destruição), desnutrição proteica grave, hipoplasia pancreatica ou diabetes mellitus.2
            A IPE comumente ocorre em cães de raça pura e mestiços, sendo que a incidência em Pastores Alemães é maior, pois apresentam uma predisposição a atrofia acinar pancreática, que leva o animal a uma perda severa de massa pancreática e consequentemente mais propensos a IPE. Nos cães idosos, ela normalmente é observada de forma secundária à pancreatite crônica grave.3



2 – Pâncreas Exócrino
2.1 – Estrutura e Função
           
O pâncreas é um órgão túbulo-alveolar, com formato de “V”, lobulado e que varia de rósea a acizentado. Uma porção deste órgão está localizado na parte cranial do duodeno. É composto por uma porção direita, que situa-se ao longo do duodeno proximal, uma porção intermediária e uma porção esplênica.  Possui elementos exócrinos e endócrinos, sendo que a primeira parte é constituída por ácinos compostos por células secretoras, ocupando a maior parte do pâncreas.4 A parte endócrina é constituída pelas ilhotas de Langerhans, sendo responsável pela produção de insulina, glucagon e somatostatina.5
            A secreção do pâncreas exócrino contribui para a digestão por conter várias enzimas que desdobram os lipídeos (lípase e fosfolipase), as proteínas (tripsina e quimotripsina) e os carboidratos (caboxipeptidases) da dieta, e estas, são ligadas por um sistema de ductos que levam as mesmas até o intestino delgado. As secreções também contém eletrólitos que mantém o pH intestinal em um ótimo espectro para a atividade enzimática. As enzimas pancreáticas agem sobre os produtos da digestão gástrica, sendo secretadas inicialmente na forma de proenzimas (precursores inativos), resguardando a integridade do pâcreas. São ativadas após a sua entrada no intestino. A lípase pancreática é secretada na forma ativa, mas sua atividade é exacerbada pelos sais biliares. O controle da secreção de enzimas pancreáticas é controlado por fatores neurais e humorais.4


2.2 – Consequências da Disfunção do Pâncreas Exócrino
             
O pâncreas exócrino tem uma considerável reserva funcional. Dessa forma, somente distúrbios que acometem porções significativas desse órgão podem causar má digestão, caracterizando em insufuciência pancreática exócrina. A má digestão como consequência da disfunção pancreática exócrina é mais comum no cão, na qual normalmente está associada a atrofia pancreática ou pancreatite crônica.4
            A IPE pode ocorrer também em outras espécies esporadicamente, incluindo bovinos, especialmente em terneiros com hipoplasia pancreática e gatos. Esta enfermidade em pequenos animais e terneiros é caracterizada por esteatorréia, diarréia, perda de peso, polifagia.4


3 – Insuficiência Pancreática Exócrina em Cães
3.1 – Descrição e Etiologia

A IPE é caracterizada por uma produção de enzimas inadequadas, resultando em síndrome de má digestão e absorção. Em condições normais, o pâncreas possui uma reserva funcional considerável. Para que os sinais de IPE se manifestem é necessário que uma porção significativa da glândula tenha sido afetada, podendo ser por perda progressiva de tecido acinar ou por destruição inflamatória. Esteatorréia e azotorréia não surgem em cães até que mais de 85-90% da capacidade secretora do pâncreas seja perdida. Além disso, existem vias alternativas da digestão para alguns nutrientes, como as lípases linguais e ou gástricas, as pepsinas gástricas, na qual, associadas à reserva funcional pancreática, pode retardar ainda mais o aparecimento dos sinais clínicos de IPE.5
A causa mais comum de perda do tecido exócrino é a atrofia acinar pancreática. Menos comumente, pode ser caudada por pancreatite crônica, episódios recorrentes de pancreatite aguda ou subaguda e, raramente, por neoplasias pancreáticas.2
A elucidação de IPE pode ser feito por meio de exame histológico do pâncreas, desta forma é mais comum de diagnosticar a causa da doença após a morte do animal.4

3.1.1 – Atrofia Acinar Pancreática
           
Na atrofia acinar pancreática ocorre destruição seletiva das células acinares, causando secreção inadequada de enzimas pancreáticas e sinais de má digestão característicos de IPE, perda rápida de peso, apesar de um apetite voraz. Segunda a literatura, é particularmente comum em cães das raças Pastor Alemão e Collie de pelo longo, nos quais parece ser transmitida hereditariamente, numa forma autossômica recessiva. Animais jovens são afetados usualmente entre os 6 e 12 meses. A lesão pode ser de hipoplasia a atrofia. O pâncreas dos animais afetados é pequeno, mas ilhas de tecido pancreático exócrino normal usualmente ocorrrem.4

3.1.2 – Pancreatite
           
A pancreatite aguda pode ser definida como inflamação súbita do pâncreas, podendo apresentar episódios recidivantes com intervalos variáveis. Esta enfermidade pode ser autolimitante, leve ou intensa, com ou sem comprometimento vascular, podendo haver ou não alteração sistêmica. Pancreatite crônica pode ser definida como doença inflamatória contínua caracterizada por destruição do parênquima pancreático, ocasionando prejuízo progressivo e/ou permanente da função endócrina e/ou exócrina, sendo que no estágio final podem ocorrer complicações devido a insuficiência pancreática. Se um episódio agudo não for fatal, pode ser que ocorra resolução completa ou o processo inflamatório prossiga de forma contínua e assintomática.4
            Assim como na pancreatite aguda, a causa de pancreatite crônica em cães geralmente é desconhecida. Cerca de 90% dos casos são de origem idiopática, podendo ser hereditária. Alguns fatores de risco podem ser citados, como hipertrigliceridemia, intoxicação por organofosforados, medicamentos, obstrução do ducto pancreático, entre outros.2
            Cães de qualquer idade podem ser acometidos, porém há maior prevalência em animais de meia idade ou idosos, castrados, sem predisposição sexual. Poodle miniatura e Cocker Spainel Inglês, Schnauzer miniatura, Cavalier King Charles Spainel, Collie ou Boxer, além das raças Terrier ou de caça, tem apresentado maior relação com a doença. Aproximadamente 50% dos cães acometidos pela pancreatite crônica autoimune desenvolvem secundariamente diabete melito ou insuficiência pancreática exócrina.4
            De forma geral, acredita-se que a pancreatite desenvolve-se quando há ativação de enzimas digestivas dentro da glândula, resultando em autodigestão da mesma.2
            Na pancreatite crônica tanto a porção endócrina quanto a exócrina podem estar acometidas. Macroscopicamente o pâncreas pode estar rígido, contraído e nodular, podendo apresentar aderências. Histologicamente pode haver aumento de tecido conjuntivo fibroso, com ou sem células inflamatórias intersticiais e perda da estrutura do parênquima.4


3.1.3 – Neoplasias Pancreáticas
           
As neoplasias pancreáticas exócrinas são consideradas raras em pequenos animais, sendo divididas em adenomas e carcinomas, de acordo com sua malignidade. A incidência é maior em cães de meia idade e idosos, devendo ser considerada no diagnóstico diferencial em cães idosos que desenvolvem IPE.5
            Os adenomas pancreáticos geralmente são representados por nódulos pequenos e únicos. Em medicina veterinária há maior incidência de carcinomas em relação aos adenomas.5
            Os adenocarcinomas de pâncreas podem ser de origem do ducto ou das células acinares. Em geral, são tumores altamente malignos e costumam causar metástases para a parede do duodeno, mesentério, fígado e linfonodos locais.2
            Os adenomas geralmente são achados incidentais de necropsia, sem apresentação clínica, enquanto os adenocarcinomas podem causar sinais clínicos como: dor abdominal, perda de peso, êmese, anorexia, e depressão. Os animais podem apresentar icterícia devido a obstrução associada de ductos biliares ou de metastade hepática disseminada. Sinais de IPE podem ser relacionados à obstrução dos ductos pancreáticos, e a destruição das células beta pode resultar em sinais de diabete melito.2
                                                                                                                               

4 – Fisiopatogenia
           
A má absorção de nutrientes na IPE em cães não surge apenas por falha na digestão intraluminal. Dentre as alterações morfológicas secundárias na mucosa intestinal de cães com IPE, podem ser citadas atrofia das vilosidades, infiltrado de células inflamatórias e alterações na atividade enzimática da mucosa.6
Os nutrientes não são transformados nas formas absorvíveis, ocorrendo um aumento na concentração de proteínas nas microvilosidades da mucosa duodenal. Isso acontece devido a menor atividade intraluminal de protease pancreática, ocasionando aumento de proteínas na superfície da membrana e, desta forma, interferindo na absorção normal de nutrientes. Esses nutrientes não absorvidos atuam como substratos para as bactérias do lúmen intestinal, na qual, relacionado a falta de fatores bacteriostáticos do suco pancreático e às mudanças na motilidade e imunidade intestinal, são possíveis causas de aumento anormal de bactérias intestinais em cães com IPE. Cerca de 70% dos cães com IPE apresentam supercrescimento bacteriano do intestino delgado (SBID). As bactérias podem prejudicar de forma indireta a absorção de nutrientes ao competirem por eles e ao diminuírem a digestão de gordura, provocando esteatorréia e deficiência de vitaminas lipossolúveis. A diarréia apresentada pelos animais acometidos pode ser oriunda do intestino delgado e grosso, já que as bactérias também transformam a gordura não digerida em hidroxiácidos graxos e, juntamente com os sais biliares causam irritação na mucosa do cólon, podendo provocar diarréia secretória oriunda do intestino grosso. O SBID prolongado e sem tratamento pode resultar dano à mucosa com reversibilidade parcial, no qual pode ser explicado porque alguns cães não recuperam o peso normal.7
A má absorção de nutrientes por tempo prolongado pode levar os cães com IPE à caquexia, em consequência da subnutrição proteico-calórica, podendo prejudicar a função da mucosa intestinal devido à redução da atividade enzimática e, consequentemente a síntese proteica. Também pode-se associar a subnutrição com baixa imunidade humoral e celular, contribuindo para o surgimento de alterações da microbiota intestinal.6
Em aproximadamente 36% a 76% dos cães com IPE é relatada a deficiência de cobalamina, que pode estar associada à proliferação de bactérias que se ligam à cobalamina no intestino delgado de cães, impedindo a absorção, e parte está associada à falta de fator intrínseco pancreático que se liga à vitamina B12 e exerce papel importante na sua absorção. A cobalamina é essencial para a síntese de DNA, e concentrações séricas subnormais podem afetar adversamente a proliferação normal de células na mucosa intestinal.7
           

5 – Aspectos Clínicos
           
Os sinais clínicos geralmente se manifestam após a perda de mais de 90% do parênquima acinar funcional, e decorrem da produção inadequada de enzimas digestivas que causam síndrome de má digestão e má absorção de nutrientes secundária à falha da digestão intraluminal. A maior parte dos cães chegam na clínica com os proprietários se queixando de diarréia crônica, emaciação e apetite voraz.5
            Cerca de 90% dos cães apresentam fezes amareladas ou acinzentadas, aumento do volume fecal e aumento da frequência de defecação e flatulência. A diarréia oriunda de má digestão e falha na absorção tende a ser gordurosa, caracterizando-se por grande volumes de fezes moles e semiformadas ou não formadas, com odor rançoso. A apresentação de crônica pode levar a caquexia. Pode ser observada também diarréia aquosa, porem de forma temporária. Outros sinais comuns são perda de peso, apesar de polifagia e aumento do consumo alimentar e coprofagia. Embora seja atípico, alguns animais podem apresentar êmese e, raramente anorexia intermitente. Os cães podem apresentar ainda alterações na pelagem e manchas oleosas na região perineal em consequência da esteatorreia.5
            Alguns animais, principalmente os da raça Pastor Alemão, podem apresentar sinais dermatológicos de alergia alimentar. As alterações morfológicas e funcionais da mucosa intestinal como baixa digestão de proteínas, defeito na barreira mucosa e aumento da permeabilidade da mucosa, podem justificar tal sensibilidade. Os sinais decorrentes de sensibilidade alimentar são dermatológicos (prurido, eritema, autotraumatismo, piodermite, otite, entre outros) ou gastrointestinais (vômito, diarréia, flatulência e desconforto abdominal).8
            Em casos de IPE secundária a pancreatite crônica pode ocorrer episódios intermitentes de vômitos e anorexia, sendo que animais com pancreatite em estagio avançando também podem desenvolver diabete melito, antes ou após instalação de IPE. Neste caso, podem ser observados sinais como: poliúria, polidpsia, catarata, alterações de pelagem, entre outros.
            Embora os sinais de IPE sejam considerados característicos da doença, não são patognomônicos de disfunção exócrina. Devem ser considerados no diagnóstico diferencial de outras doenças do intestino delgado que podem causar má absorção e má digestão.5


6 – Diagnóstico
           
O diagnóstico presuntivo da IPE é com base nos sinais clínicos e na anamnese do paciente. O diagnóstico definitivo é realizado através de exames laboratoriais.6
            Os resultados da analise laboratorial padrão como: hemograma, perfil bioquímico e urinálise são normais. Em alguns casos, o diagnóstico pode ser realizado por exames de citologia de tecido. Alguns cães podem apresentar atividade sérica elevada de ALT, devido ao rompimento das barreiras do intestino delgado, resultando em inflamação hepática e hipercolesterolemia. Nesse aspecto, os resultados da anamnese, do exame físico e dos testes diagnósticos não podem diferenciar doença primária do intestino delgado da má absorção oriunda de IPE. Devem-se excluir causas infecciosas, parasitárias e metabólicas.5
            Existem dois testes que podem ser usados como triagem: o desafio com triglicerídeos e a analise qualitativa fecal para detecção da presença de tripsina e partículas alimentares não digeridas. Outros exames são: teste de digestão de bentiromida oral, microscopia fecal, medição de folato e cobalamina sérica.6

6.1 – Teste de desafio com triglicerídeos (ou teste de absorção)
           
Baseia-se no princípio de que os cães com IPE ou doença primária do intestino delgado podem apresentar má absorção de gorduras e os valores de triglicerídeos séricos após a administração de óleo de milho seriam similares aos valores em jejum em tais casos. Deve ser realizado em animal sadio paralelamente ao teste. Após o jejum de 12 a 24 horas, colher sangue com heparina e centrifugar. Administrar ao animal 3 ml/kg PV de óleo de milho, colhendo amostras sanguíneas seriadas com heparina, após 30 minutos, uma, dua e três horas. Observar turbidez do plasma após a centrifugação.  Mantendo-se límpido o plasma do animal teste, repetir a prova com administração conjunta de pancreatina.7

6.2 – Análise fecal qualitativa
6.2.1 – Atividade proteolítica fecal (tripsina) ou prova do filme de RX

Este teste tem por objetivo avaliar a presença de tripsina. Baseia-se na digestão do filme radiográfico usado nas amostras. Deve ser feito em três amostras: uma sem fezes (controle negativo), outra com fezes de animal sadio (controle positivo) e outra de fezes teste (fezes do animal testado). A solução deverá conter 2 gr de fezes, 9 ml de água destilada, 1 ml de solução de bicarbonato e uma fita de filme radiográfico. As amostras são colocadas na estufa a 37 graus Celsius, por 2 horas. Caso o animal apresente IPE, não haverá digestão, o filme ficará intacto, indicando não haver enzimas digestivas.7


7 – Tratamento
           
Os objetivos da terapia consistem no restabelecimentos das enzimas pancreáticas intraluminais e reveter os desequilíbrios nutricionais.5 Os alimentos para pacientes com IPE devem conter baixa quantidade de fibra, diminuindo dessa forma a quantidade de bolo fecal, distensão abdominal e flatulências. Além disso, deve ser ofertado pequenas porções de enzimas pancreáticas para melhorar a digestibilidade.8
            Existem inúmeros produtos disponíveis em forma de pó ou comprimido, sendo que a formulação em pó é a que demonstra melhores resultados, devido a maior absorção.5 Pode ser de bovino ou suíno, como pó, comprimido, cápsulas ou grânulos. A dose enzimática indicada são 2 colheres de chá para cada 20 kg de PV (ou 0,26 a 0,44g/kg), por refeição. Pode ser utilizado também pâncreas cru, cortados em pedaços. Recomendam-se preparações de pancreatina em pó como Viokase-V, da Fort Dodge, Pancrezyme, da Daniels.8
            No momento em que o paciente passa a ter boa resposta, com ausência de diarréia e aumento progressivo de peso, pode-se diminuir a enzima pancreática ou o pâncreas cru, para quantidade mínima necessária afim de manter a remissão de IPE.5
             Deve-se fazer uso de dieta com alta digestibilidade e baixo conteúdo de gordura, juntamente com a enzima pancreática. Em animais com falha de ganho de peso desejado, pode-se suplementar a dieta com triglicerídeos.8
            Considere uma suplementação multivitamínica, principalmente de vitaminas lipossolúveis (A,D,E,K). A cobalamina e o tocoferol também devem se adicionados a dieta.5
            A lípase é a enzima mais sensível à acidez e sua atividade pode ser melhorada com a redução da mesma fazendo-se uso de bloqueadores de receptor de H2. A maioria dos cães com IPE espontânea respondem ao tratamento com suplementação enzimática e não necessitam de antibióticos, porém a outros casos que necessitam de antibioticoterapia.7

8 – Prognóstico
           
O prognóstico para cães com IPE é bom, pois a doença pode ser tratada, mas depende do estado geral em que o animal se apresenta quanto levado ao veterinário e da resposta ao tratamento. Cerca de 19% dos cães são submetidos à eutanásia no primeiro ano de tratamento em virtude da baixa resposta ao tratamento. Um estudo realizado por Batchelor e cols.,2007b,  mostrou que o tempo de sobrevida médio de cães que responderam ao tratamento foi muito bom, de 1919 dias. Isso demonstra a importância da programção de retornos regulares, para acompanhamento, principalmente nas estapas iniciais do tratamento. O prognóstico para cães e gatos com IPE secundária à pancreatite crônica em estagio terminal é considerado bom na maioria dos casos, mesmo quando ocorre certas complicações.5

9 – Considerações Finais
           
A insuficiência pancreática exócrina é uma doença comum em cães e gatos, sendo que cães da raça Pastor Alemão são mais acometidos. Os sinais clínicos comumente observados são caquexia, coprofadia, polifagia, esteatorréia, má absorção e má digestão. Deve sempre levar em consideração o exame físico e os achados laboratoriais a fim de dar um diagnóstico com exatidão, pois os sinais clínicos vistos na IPE são muito semelhantes a outras enfermidades. O tratamento com enzimas pancreáticas é extremamente eficaz e possui ótimos resultados quando associado a alimentação adequada. O prognóstico da IPE é considerado bom quando o animal é tratado de forma adequada.

10 – Referências Bibliográficas

1.      Lopes STA, Biondo AW, Santo AP. Função pancreática. Manual de Patologia Clínica Veterinária, 3ed, 2007.
2.      Stockham SL, Scott MA. Pâncreas exocrino e intestino. Fundamentos de patologia clínica veterinária, 2ed, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.
3.      Costa PRS, Tostes R, Siqueira J, Franco SRVS. Torção mesentérica e insuficiência pancreática exócrina em cão pastor alemão-relato de caso. Clínica Veterinária, n.29, 2000.
4.      Carlton WW. Patologia Veterinária Especial de Thompson, 2ed, Porto Alegre: ArtMed, 1998.
5.      Nelson RW, Couto CG. Insuficiência do pâncreas exócrino. Medicina Interna de Pequenos Animais, Rio de Janeiro, 4ed, 2010. 
6.      Tams TR. Doenças do Pâncreas. Gastroenterologia de Pequenos Animais. São Paulo, 2ed
7.      Lopes STA, Biondo AW, Santo AP. Função pancreática. Manual de patologia Clínica Veterinária, 3ed. Santa Maria, 2007.

8.      Carvalho CF, Silva EB, Silva LCS. Insuficiência exócrina em um cão da raça Cocker Spainel inglês – relato de caso. Ambiência Guarapuava, Paraná, v.6, n.3, 2010.

HIPOADRENOCORTICISMO EM CÃES E GATOS – REVISÃO DE LITERATURA

Edilane C. Nascimento 

1 INTRODUÇÃO

A insuficiência adrenal primária foi originalmente descrita por Thomas Addison em 1855. É uma endocrinopatia resultante da destruição progressiva das células do córtex adrenal e se manifesta, predominantemente, como um quadro de insuficiência glico e mineralocorticoide (SILVA & KATER, 1998).
As glândulas adrenais são órgãos endócrinos localizados no tecido retroperitoneal ao longo dos pólos craniais dos rins. Cada glândula é dividida em duas áreas separadas, o córtex e a medula, que produzem diferentes tipos de hormônios. Ambas possuem origem embriológica distinta, sendo que a medula surgiu do neuroectoderma e produz catecolaminas como a noradrenalina e adrenalina, e o córtex surgiu do epitélio celômico mesodérmico e produz hormônios esteróides, como cortisol, corticosterona, aldosterona e esteróides sexuais (CERDEIRO, 2011).
O córtex da adrenal é composto por três zonas: glomerular, fasciculada e reticular. A zona glomerular é a camada externa da glândula adrenal, a única capaz de secretar aldosterona e outros mineralocorticóides em função da enzima aldosterona sintase. Ambas as zonas fasciculada e reticular sintetizam andrógenos e cortisol, e ficam localizadas na camada central e interna das glândulas adrenais, respectivamente (CERDEIRO, 2011).




2 ETIOLOGIA

O hipoadrenocorticismo é uma deficiência de mineralocorticoides, glicocorticoides, ou ambos. A insuficiência adrenocortical primária (doença de addison) envolvendo uma deficiência de secreção tanto de mineralocorticoides quanto de glicocorticoides é mais comum (NELSON & COUTO, 2010).
A etiologia do hipoadrenocorticismo primário é classificada usualmente como idiopática. A atrofia de todas as camadas do córtex adrenal é o achado histopatológico mais frequente. É provável que ocorra destruição imunomediada do córtex da adrenal na maioria dos cães e gatos com insuficiência adrenal idiopática (NELSON & COUTO, 2010). Em virtude da adrenalite que já foi descrita em cães com hipoadrenocorticismo primário espontâneo e pelos anticorpos antiadrenais já relatados em outros cães, acredita-se que a causa imunomediada seja a etiologia mais provável em caninos e felinos com hipoadrenocorticismo primário (CERDEIRO, 2011).
A predisposição genética à doença é um fator que deve ser levado em consideração. Estudos cães da raça Cão d‟água Português forneceram evidências de que a Doença de Addison é um distúrbio hereditário nessa raça, determinado através de um locus autossômico recessivo (CERDEIRO, 2011).
A destruição bilateral do córtex da adrenal em razão de neoplasia, doença granulomatosa, infarto hemorrágico, trombose arterial ou fármacos como mitotano e o trilostano podem causar insuficiência adrenocortical primária (NELSON & COUTO, 2010).
Acredita-se que no mínimo 90% dos córtices da adrenal devem estar destruídas para que haja o desenvolvimento dos sinais clínicos. Uma síndrome de deficiência parcial, caracterizada por reserva adrenal inadequada, pode ocorrer inicialmente, com sinais clínicos manifestados somente durante os momentos de estresse (NELSON & COUTO, 2010).
À medida que progride a destruição das glândulas adrenais, a secreção hormonal torna-se inadequada, mesmo em condições sem considerável estresse, e uma verdadeira crise metabólica ocorre sem qualquer evento óbvio incitante (NELSON & COUTO, 2010).
Os mineraloscorticoides controlam a homeostasia sódica, potássica e hídrica. No quadro de insuficiência adrenocortical primária, a falta de secreção de aldosterona resulta em alteração na conservação renal de sódio e cloreto e na excreção renal de potássio, levando ao desenvolvimento de hiponatremia, hipocloremia e hipercalemia. A incapacidade de reter sódio e cloreto causa a redução do volume de fluido extravascular, o que leva ao desenvolvimento progressivo de hipovolemia, hipotensão, débito cardíaco reduzido e diminuição na perfusão dos rins e outros tecidos. A hipercalemia tem um efeito deletério sobre a função cardíaca, causando diminuição na excitabilidade miocárdica, aumento refratário na condução miocárdica e condução retardada (NELSON & COUTO, 2010).
Uma deficiência de glicocorticoide simultânea resulta, de maneira típica, em sinais do trato gastrointestinal (p.ex. anorexia, emese, perda de peso) e alterações no estado mental (letargia). Um dos principais sinais é uma tolerância prejudicada ao estresse (NELSON & COUTO, 2010).
Uma deficiência de na secreção de glicocorticoides, mas não de mineralocorticoides, é chamada de hipoadrenocorticismo atípico. A deficiência de glicocorticoides, resultante da disfunção pituitária, e também chamado de hipoadrenocorticismo secundário. As lesões destrutivas na glândula pituitária ou hipotálamo, administração exógena de glicocorticoides por tempo prolongado e perda de função idiopática são as causas mais comuns de insuficiência adrenal secundaria (NELSON & COUTO, 2010).
A ocorrência natural de hipoadrenocorticismo secundário pode ser causada por deficiência de ACTH idiopática ou por lesões destrutivas no hipotálamo ou na hipófise devido à neoplasia, trauma ou inflamação (CERDEIRO, 2011).
Em felinos, não há relatos de ocorrência natural de hipoadrenocorticismo secundário, porém, foram descritos casos de hipoadrenocorticismo secundário iatrogênico após administração de glicocorticóides ou progestágenos (CERDEIRO, 2011).

3 ASPECTOS CLÍNICOS

3.1 Predisposição
O hipoadrenocorticismo é uma doença típica de cadelas jovens de meia idade, com média de 4 a 6 anos. Os caninos com hipoadrenocorticismo deficiente de glicocorticoides tendem a ser mais idosos no momento do diagnóstico do que os com hipoadrenocorticismo deficiente em mineralocorticoides e glicocorticoides. O hipoadrenocorticismo é raro em felinos (NELSON & COUTO, 2010).
Algumas raças predispostas são Great Dane, Rottweiler, Cão d‟água Português, Poodle Standard, West Highland High Terrier, Wheaton Terrier, Nova Scotia Duck Tolling Retrievers e Bearded Collies (CERDEIRO, 2011).

3.2 Sinais clínicos e alterações no exame físico
As manifestações clínicas mais comuns estão relacionadas às alterações no trato gastrointestinal e no estado mental, e incluem letargia, anorexia, emese e perda de peso. As anormalidades adicionais observadas no exame físico podem incluir desidratação, bradicardia, pulsos femurais fracos e dor abdominal (Tabela 1). Ocasionalmente os proprietários podem descrever uma doença com fases de melhora e piora ou episódica. A hipovolemia, a azotemia pré-renal e as arritmias cardíacas resultantes podem desencadear a crise addisoniana, se a hiponatremia e a hipercalemia se tornarem mais intensas (NELSON & COUTO, 2010).

Tabela 1 Sinais clínicos causados pelo hipoadrenocorticismo em cães e gatos.
Cães
Felinos
Letargia*, anorexia*, emese*, fraqueza*, diarreia, perda de peso, tremores, poliúria, polidipsia e dor abdominal.
Letargia*, anorexia*, perda de peso*, emese, poliúria e polidipsia.
   *Sinais clínicos mais comuns.
    Fonte: NELSON & COUTO, 2010.

3.3 Patologia clínica
A hipercalemia, a hiponatremia e a hipocloremia são as alterações eletrolíticas clássicas nos animais com insuficiência adrenal, e talvez sejam as evidências mais importantes usadas, em última instância, para estabelecer o diagnóstico de hipoadrenocorticismo (NELSON & COUTO, 2010).
A proporção sódio:potássio reflete as alterações nas concentrações desses eletrólitos no soro e é usada frequentemente como um instrumento diagnóstico para identificar a insuficiência adrenal. As alterações eletrolíticas podem ser enganadoras. Concentrações eletrolíticas séricas normais não excluem a insuficiência adrenal. As anormalidades podem não ser evidentes nos estágios iniciais, quando os sinais clínicos resultam de deficiência de glicocorticoides e quando ocorre a insuficiência adrenal secundária (NELSON & COUTO, 2010).
A relação sódio:potássio, que normalmente varia de 27:1 a 40:1 encontra-se reduzida. Nos pacientes acometidos, as concentrações de sódio sérico variam de normais a menores que 105 mEq/L e as concentrações de potássio variam de normais a menores que 10 mEq/L nos cães e 5,7 a 7,6 mEq/L nos gatos. O valor de referência de sódio em cães é de 141 a 153,2 mEq/L e o de potássio 3,9 a 5,65 mEq/L. Em gatos, o valor normal de sódio é de 145 a 157 mEq/L e o de potássio é de 3,8 a 4,51 mEq/L (CERDEIRO, 2011).
Infecções por Trichuris vulpis são relatadas como causa de uma pseudo doença de Addison, em virtude desse parasita causar desbalanços eletrolíticos semelhantes ao da doença, como hipercalemia e hiponatremia, além de sinais clínicos que envolvem emese, diarréia, perda de peso e fraqueza (CERDEIRO, 2011).
A história e o exame físico completo associado à avaliação crítica dos resultados do hemograma, do perfil bioquímico sérico e dos achados da urinálise, permitem priorizar os possíveis diagnósticos diferenciais (NELSON & COUTO, 2010).
Os sinais mais importantes do hipoadrenocorticismo incluem ausência de leucograma de estresse, hipoalbuminemia, hipocolesterolemia, hipoglicemia ou uma combinação desses (NELSON & COUTO, 2010).
Os achados hematológicos incluem a presença de anemia normocítica normocrômica arregenerativa (que pode ser mascarada pela desidratação), linfocitose (em até 10% dos casos) e eosinofilia (20% dos pacientes). O clínico deve suspeitar de hipoadrenocorticismo se a contagem de células brancas não revelar um leucograma de estresse, esperado em casos de estresse e doenças crônicas (ROMÃO & ANTUNES, 2012).
O aspecto desafiador do diagnóstico é a diferenciação entre falência renal aguda e insuficiência adrenal primária. A azotemia da insuficiência adrenal ocorre secundariamente a redução da perfusão renal. O aumento compensatório na densidade urinária ultrapassando 1030, permite diferenciar a azotemia pré-renal da azotemia renal primária. Infelizmente alguns animais hipoadrenais não tem a capacidade de concentrar a urina, apresentando isostenúria. Felizmente o tratamento inicial da falência renal aguda e similar ao implementado para insuficiência adrenal. A diferenciação deve depender de testes do eixo pituitário-adrenocortical (NELSON & COUTO, 2010).

3.4 Eletrocardiografia
A hipercalemia deprime a condução cardíaca e causa alterações características no eletrocardiograma. A gravidade das anormalidades se correlaciona à gravidade da hipercalemia (NELSON & COUTO, 2010).
Em uma situação de hipercalemia leve (> 5,5 mEq/L) há um pico da onda T. Quando o potássio aumenta mais (> 6,5 mEq/L) há ampliação do complexo QRS, diminuição da sua amplitude, aumento da duração da onda P e aumento do intervalo P-R. Se a concentração de potássio aumentar acima de 8 a 8,5 mEq/L, haverá uma completa perda das ondas P e fibrilação atrial ou assístole (CERDEIRO, 2011).

3.5 Diagnóstico por imagem
 Os cães e gatos hipoadrenais com hipovolemia evidente frequentemente apresentam microcardia, achatamento e diminuição do diâmetro do arco aórtico descendente e estreitamento da veia cava caudal, alterações observadas nas radiografias torácicas. Megaesôfago generalizado simultâneo pode ser também evidente e pode se resolver em resposta ao tratamento do hipoadrenocorticismo. A ultrassonografia abdominal pode revelar glândulas adrenais pequenas, alteração sugestiva de atrofia adrenocortical, todavia o encontro de glândulas adrenais normais não exclui o diagnóstico de hipoadrenocorticismo (NELSON & COUTO, 2010).
Acredita-se que a ligação entre o megaêsofago e o hipoadrenocorticismo esteja na debilidade muscular em virtude da deficiência de glicocorticoides (CERDEIRO, 2011).

4 DIAGNÓSTICO

O diagnóstico de hipoadrenocorticismo é feito com base na história; aspectos clínicos; achados clinicopatológicos e, no caso de hipoadrenocorticismo primário, na identificação de anormalidades eletrolíticas. Resultados do teste de estimulação pelo ACTH (hormônio adrenocorticotrópico) confirmam o diagnóstico (Tabela 2), como uma concentração sérica de cortisol pós-ACTH menor que 2μg/dL, concentração de 4μg/dL é inconcistente e valores entre 2 e 4μg/dL é inconcludente (podem ocorrer com a insuficiência adrenal relativa, síndrome definida como produção inadequada de cortisol em relação à maior demanda durante períodos de doenças criticas) (NELSON & COUTO, 2010).
Deve-se administrar 0,25 mg de α 1-24 cosyntropin (ACTH sintético) por via intramuscular ou intravenosa em cães e 0,125 mg em gatos, pelas mesmas vias. Após 45-60 minutos deve-se realizar uma nova colheita de sangue para determinação de cortisol plasmático (CERDEIRO, 2011).




Tabela 2 Diferenciação entre hipoadrenocorticismo primário e secundário.

Hipoadrenocorticismo primário
Hipoadrenocorticismo primário atípico
Hipoadrenocorticismo secundário
Cortisol pós-estimulação por ACTH
Diminuído
Diminuído
Diminuído
Aldosterona pós-estimulação por ACTH
Diminuída
Normal
Normal
ACTH endógeno
Aumentado
Aumentado
Diminuído
Fonte: NELSON & COUTO, 2010.

Os resultados do teste de estimulação por ACTH não deferência nos caninos e felinos a insuficiência adrenal primária natural, a insuficiência secundária por falência da pituitária, a insuficiência secundária iatrogênica (administração de corticoides ou glicocorticoides) e nem de cães com destruição adrenocortical primária causada por superdosagem de mitotano ou trilostano (NELSON & COUTO, 2010).
Concentrações de ACTH acima dos valores de referência, que variam de 2,2 a 20 pmol/L, confirmam o diagnóstico de hipoadrenocorticismo primário, enquanto que concentrações abaixo da referência caracterizam hipoadrenocorticismo secundário. Outro teste para diferenciação da insuficiência adrenal primária e secundária é o da aldosterona plasmática. As concentrações de aldosterona normais indicam hipoadrenocorticismo secundário enquanto que as concentrações abaixo do normal indicam primário (CERDEIRO, 2011).
Se o hipoadrenocorticismo secundário puder ser comprovado, somente o tratamento de reposição com glicocorticoides será indicado. Esta diferenciação pode ser feita através da mensuração de eletrólitos, concentração basal de ACTH endógeno ou pela mensuração de aldosterona durante o teste de estimulação por ACTH (NELSON & COUTO, 2010).

5 TRATAMENTO

A agressividade do tratamento depende, em parte, do estado clínico do animal e da natureza da insuficiência (glicocorticoide ou mineralocorticoide ou, ambos) (NELSON & COUTO, 2010).

5.1 Tratamento para a crise addisoniana aguda
A crise addisoniana aguda envolve tanto a deficiência mineralocorticoide quanto a glicocorticoide. O tratamento da insuficiência adrenal primária aguda é dirigido para a correção da hipotensão, hipovolemia, desequilíbrios eletrolíticos e a acidose metabólica; melhorar a integridade vascular; e fornecer uma fonte imediata de glicocorticoides (NELSON & COUTO, 2010).
A solução salina fisiológica é o fluido IV (intravenoso) de escolha porque auxilia na correção da hipovolemia, da hiponatremia e da hipocloremia, deve ser feito na dose de 40 a 80 mL/kg/h, inicialmente. A hipercalemia é reduzida pela diluição e pela melhora da perfusão renal (NELSON & COUTO, 2010).
Se houver suspeita ou confirmação de hipoglicemia, deve-se adicionar dextrose a 50% ao fluido IV (solução de dextrose a 5%). Os caninos e felinos com insuficiência adrenal aguda normalmente apresentam uma leve acidose metabólica, que não necessita de tratamento e a fluidoterapia por si já corrige-a. se a concentração de bicarbonato sérico for menor que 12 mEq/L, indica-se o tratamento conservador à base de bicarbonato (NELSON & COUTO, 2010). Os miliequivalentes de bicabornato necessários para corrigir a acidose podem ser determinados pela seguinte equação:


Déficit de bicabornato (mEq/L) = Peso corpóreo (Kg) x 0,5 x
Déficit de base (mEqL)

Um quarto da dose calculada de bicabornato deve ser administrada nos fluidos IV durante as 6 a 8 horas iniciais de tratamento (NELSON & COUTO, 2010).
O tratamento com glicocorticoide e mineralocorticoide é indicado também no manejo inicial da crise addisoniana aguda. Os glicocorticoides não devem ser administrados até que se realize o teste de estimulação pelo ACTH. A dexametasona não interfere no teste de cortisol e pode ser útil se o tratamento com glicocorticoides não puder ser retardado; ela pode ser administrada IV na dose inicial de 0,5 a 1,0 mg/Kg e repetido a cada 12 horas na dose de 0,05 a 0,1 mg/Kg na solução IV (NELSON & COUTO, 2010).
Os suplementos mineralocorticoides atualmente disponíveis incluem o DOCP (Pivalato de desoxicorticosterona) e o acetato de fludrocortisona. O DOCP é administrado na dose de 2,2 mg/kg por via IM ou SC, inicialmente a cada 25 dias (NELSON & COUTO, 2010).
A maioria dos cães e gatos com insuficiência adrenal aguda mostra melhora clínica e bioquímica acentuada em 24 a 48 horas. Nos 2 a 4 dias seguintes deve-se fazer a transição gradual trocando-se a ingestão de fluidos IV por alimento e água por via oral. Além disso, o tratamento de manutenção deve ser iniciado com o glicocorticoide e mineralocorticoide (NELSON & COUTO, 2010).

5.2 Tratamento de manutenção para a insuficiência adrenal primária
Os mineralocorticoides, e usualmente os glicocorticoides, são necessários para a manutenção de um cão ou gato com insuficiência adrenal primária. A suplementação mineralocorticoide preferida é o DOCP injetável, que libera 1 mg/dia/25 mg de suspensão. A dose inicial é de 2,2 mg/kg, administrado por via IM (intramuscular) ou SC (subcutâneo), a cada 25 dias. Os ajustes subsequentes serão feitos com base nas concentrações séricas dos eletrólitos, mensuradas 12 e 25 dias após cada uma das 2 ou 3 primeiras injeções. A única reação adversa é poliúria e polidipsia (NELSON & COUTO, 2010).
As desvantagens do DOPC são inconveniência e custo, associados às visitas mensais ao veterinário. Assim que o cão ou gato estiver estável a quantidade de DOPC pode sofrer decréscimo de 10%, devendo-se identificar a dose mais baixa que mantenha o animal saudável (NELSON & COUTO, 2010).
O acetato de fludrocortisona é outro suplemento mineralocorticoide comumente usado. A dose inicial é de 0,02 mg/kg/dia, divididos em duas doses, administrados por via oral (tipicamente necessita de aumento na dose). As suas maiores desvantagens são grande variação nas doses para controle da concentração de eletrólitos, desenvolvimento de poliúria, polidipsia e incontinência, resistência ao medicamento e persistente hipercalemia e hiponatremia leves (NELSON & COUTO, 2010).
A suplementação com glicocorticoides é indicada inicialmente para todos caninos e felinos com insuficiência adrenal primária. A prednisona (cães) e a prednisolona (gatos) é administrada na dose inicial de 0,25 mg/kg duas vezes ao dia. Nos 1 a 2 meses seguintes a dose deve ser gradualmente reduzida, para a menor dose eficaz. Todos os proprietários devem ter glicocorticoides disponíveis para administrar a seus animais nos períodos de estresse (dose dobrada) (NELSON & COUTO, 2010).
Em caso de insuficiência adrenal secundária ocasionada pela administração excessiva de glicocorticóides ou acetato de megestrol, deve-se reduzir a dose das medicações até interrupção do uso. A mensuração de eletrólitos periodicamente é recomendada, uma vez que a doença pode evoluir para uma insuficiência adrenal primária (CERDEIRO, 2011).
Para animais com pseudo doença de Addison ocasionada pelo nematódeo Trichuris vulpis, um antiparasitário deve ser administrado. A milbemicina oxima é eficaz contra o parasito e deve ser utilizada na dose de 0,7 mg/kg, via oral, dose única (CERDEIRO, 2011).

5.3 Prognóstico
O prognóstico para cães e gatos com insuficiência adrenal é usualmente excelente. O fator mais importante na determinação da resposta do paciente ao tratamento de longa duração é a educação do proprietário (NELSON & COUTO, 2010).





















CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar de ser uma doença de relativa baixa ocorrência, a síndrome de Addison deve ser sempre considerada como um dos diagnósticos diferenciais de distúrbios gastrointestinais inespecíficos, como êmese, hiporexia e diarréia, por exemplo, pois a rápida intervenção do clínico permite uma melhor condução da terapia e, consequentemente, do prognóstico do animal.
A falta de tratamento adequado ao paciente com a doença de Addison pode levá-lo ao desenvolvimento da crise addissoniana e consequentemente à morte em virtude de choque hipovolêmico. Por isso, é preciso que os clínicos estejam cientes dos sinais clínicos, por mais inespecíficos que eles sejam, e saibam diagnosticar e tratar o paciente devidamente.






















REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CERDEIRO A P dos S. Hipoadrenocorticismo em cães e gatos – revisão. 2011 [Monografia]. Curitiba, Universidade Tuiuti do Paraná.

NELSON, R.W.;COUTO, C.G. Medicina Interna de Pequenos Animais. Rio de Janeiro: Elsevier. 4a ed; 2010.

ROMÃO FG, ANTUNES MIPP. Hipoadrenocorticismo em cães: revisão. Vet. e Zootec. 2012 março; 19(1): 044-054.


SILVA, R. C.; KATER, C. E. Doença de Addison de Etiologia Auto-imune. Arq Bras Endocrinol. 42:(6); 1998, 431-43.

PITIOSE

Cacildo de Paula Ferreira Neto

1 Introdução

A pitiose é uma doença granulomatosa causada pelo oomiceto Pythium insidiosum, que atinge eqüinos, caninos, bovinos, felinos e humanos e ocorre em áreas tropicais, subtropicais ou temperadas. A espécie eqüina é a mais atingida, principalmente nas formas cutânea e subcutânea, seguida pelos caninos. A enfermidade em eqüinos caracteriza-se pela formação de granulomas eosinofílicos, com a presença de massas necróticas chamadas de kunkers. ¹
Esses zoosporos móveis são atraídos para o pêlo dos animais penetrando na pele através de lesões preexistentes. Essa patologia causa lesões nodulares nos pulmões, intestino, ossos e principalmente nos membros inferiores, como o abdômen, peito e genitais. Por ser uma doença micótica, a pitiose se assemelha à zigomicose e habronemose, moléstias também eqüídeas, dificultando o diagnóstico preciso. 5
Em diferentes regiões do Brasil, já foram relatados casos de pitiose em eqüinos, como nos Estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, Paraíba, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo, e em bezerros do Pantanal matogrossense. Em Minas Gerais, existem freqüentes relatos presuntivos da doença por veterinários que trabalham com eqüinocultura, entretanto, muitos ainda não conhecem a doença. ³
Vários tratamentos têm sido utilizados, principalmente em eqüinos, incluindo o uso de métodos químicos (antifúngicos), cirúrgicos e imunoterápicos. A imunoterapia surgiu como uma alternativa concreta para o controle da doença e tem apresentado resultados promissores. ¹

2 Agente Causal

O agente da pitiose (Pythium insidiosum) é um pseudo-fungo. O primeiro isolamento desse organismo filamentoso foi realizado em 1901 por Haan & Hoogkamer, a partir de granulomas subcutâneos em eqüinos. Esses autores chamaram a doença de “hyphomycoses destruens”, porém não conseguiram classificar o agente. Somente em 1961 o agente foi identificado, recebendo o nome de Hyphomyces destruens. Em 1974, verificou-se a capacidade desse agente em produzir zoósporos biflagelados, permitindo classificá-lo como um fungo da família Pythiaceae, ordem Peronosporales que deveria ser incluído no gênero Pythium. No entanto, a denominação Hyphomyces destruens continuou sendo utilizada nas descrições da doença. Em 1987, foram analisadas amostras isoladas de eqüinos, bovinos, cães e humanos e concluíram que se tratava do mesmo organismo, o qual foi denominado Pythium insidiosum e que essa nova espécie era igual às anteriormente descritas. 4
O gênero Pythium pertence ao filo Oomycota, cujos membros caracterizam-se por: produção de zoosporos biflagelados (rep. assexuada); reprodução sexuada oogâmica; parede celular composta de b-glucanos, celulose e hidroxipolina; talo diplóide; mitocôndria com crista tubular; características moleculares e bioquímicas
próprias, como uma rota alternativa para síntese de lisina. ¹
Esse gênero possui mais de 120 espécies, sendo a maioria habitante do solo e patógenos de plantas, especialmente a doença damping-off, que causa prejuízos na agricultura. Algumas espécies têm sido estudadas para utilização como controle biológico (de outros fungos e larvas de mosquitos), enquanto apenas o P. insidiosum é conhecido como patógeno de mamíferos e plantas. A identificação das espécies de Pythium não é uma tarefa fácil, pois baseia-se nas características morfológicas dos zoosporângios, zoosporos, oogônias e anterídios. ²

3 Epidemiologia

A pitiose ocorre em regiões de clima tropical, subtropical e temperado, tendo sido descrita nas Américas, alguns países europeus e sudeste asiático. Não há predisposição por sexo, idade ou raça, e a fonte de infeção são os zoósporos ambientais, não havendo relatos de transmissão direta entre animais e entre animais e o homem.
As condições ambientais são fundamentais para o desenvolvimento do organismo no meio ambiente. Para a produção de zoosporos são necessárias temperaturas entre 30 e 40ºC e o acúmulo de água em banhados e lagoas. A grande maioria dos casos de pitiose é observada durante ou após a estação chuvosa. Baseado nos dados epidemiológicos acredita-se na existência de um período de incubação de várias semanas. No Pantanal Matogrossense, a maioria dos casos de pitiose eqüina é registrada entre os meses de fevereiro e maio (verão-outono), período que corresponde ao ápice das cheias. 4
Em 1983, autores propuseram um ciclo ecológico para descrever o comportamento ambiental e a cadeia infecciosa desse organismo. O ciclo baseia-se na colonização de plantas aquáticas, que servem de substrato para o desenvolvimento e reprodução do organismo, dando origem aos zoosporângios. Os zoosporos livres na água, movimentam-se até encontrar outra planta (ou animal), na qual se encistam e emitem o tubo germinativo, dando origem a um novo micélio e completando o seu ciclo. Análises in vitro demonstraram a quimiotaxia dos zoosporos por pêlos e por tecidos animais e vegetais, atribuída às substâncias presentes nesses tecidos. Uma substância amorfa é liberada pelo zoosporo após o seu encistamento, provavelmente em resposta ao fator quimiotáxico do hospedeiro. Essa substância atuaria como um adesivo para fixar o zoosporo a superfície do hospedeiro e permitir a formação de tubo germinativo. Essas observações sustentaram a teoria de infecção, sugerindo que os eqüinos em contato com águas contaminadas poderiam atrair os zoosporos, os quais germinariam a partir de uma pequena lesão cutânea. Outros autores sugeriram a possibilidade de penetração dos zoosporos através dos folículos pilosos, baseados na detecção de hifas no interior do folículo de bovinos infectados naturalmente e no fato do quimiotaxismo ser mais ativo na região do pêlo encontrada dentro do folículo piloso. Essa observação pode questionar a necessidade de lesão na pele para que ocorra a germinação dos zoosporos. Além disso, diferenças individuais de suscetibilidade, ao exemplo do que ocorre em humanos, parecem ocorrer também em eqüinos. ¹
No Brasil, a pitiose já foi descrita em eqüinos, bovinos e caninos. A maioria dos casos corresponde a lesões cutâneas em eqüinos. O primeiro relato ocorreu no Rio Grande do Sul. Os relatos de pitiose eqüina no Brasil somam mais de 90 casos e têm
sido descritos em vários estados como Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraíba, Pernambuco e São Paulo. Além dos casos publicados, relatos informais de médicos veterinários indicam a presença da doença em vários estados brasileiros. O Pantanal brasileiro é provavelmente o local de maior ocorrência de pitiose eqüina do mundo. O Pantanal é uma planície inundável de aproximadamente 140.000 km² e possui em torno de 140.000 eqüinos. Embora não existam dados precisos da ocorrência no Brasil, os dados disponíveis indicam que a pitiose representa um problema à criação de eqüinos, especialmente em regiões alagadiças. ³

4 Diagnóstico

Tradicionalmente, o diagnóstico da pitiose baseava-se nas características clínicas, histopatológicas e no isolamento e identificação do agente através de suas características culturais, morfológicas e reprodutivas. A identificação precoce da doença, no entanto, torna-se difícil através desses métodos. O diagnóstico diferencial inclui habronemose, neoplasia, tecido de granulação exuberante e granulomas fúngicos ou bacterianos. Atualmente, métodos como imunohistoquímica e técnicas sorológicas auxiliam e suportam um diagnóstico precoce e correto. Em 1988, foi descrito pela primeira vez o método de imunohistoquímica para diagnóstico da pitiose eqüina, que foi posteriormente utilizado por vários autores. ¹
A utilização de técnicas sorológicas foi impulsionada, onde se desenvolveu técnicas de imunodifusão em gel de ágar (ID), fixação do complemento (FC) e hipersensibilidade intradérmica (TI), para o diagnóstico e monitoramento da resposta imunológica em eqüinos afetados. Os testes realizados em eqüinos com pitiose clínica, demonstraram que a ID apresenta alta sensibilidade e especificidade para a detecção de anticorpos anti-P. insidiosum. ²
Foi desenvolvido um teste de ELISA para o soro-diagnóstico de pitiose em humanos e animais, utilizando antígeno solúvel de hifas sonicadas. Os resultados indicaram que o ELISA é eficiente para o diagnóstico da pitiose e possui especificidade semelhante à ID, porém com maior sensibilidade. No Brasil, desenvolveu-se um teste de ELISA para diagnóstico da pitiose eqüina. A técnica desenvolvida utilizou sistema de luminescência química para visualização da reação, no entanto, pode ser adaptada para um sistema de visualização direta na membrana, podendo ser utilizada como um teste de campo, possuindo boa especificidade, sensibilidade, praticidade e baixo custo. 5


5 Tratamento

O tratamento de infecções pelo P. insidiosum em animais e humanos é complicado pelas características do agente, sobretudo sua composição de parede celular. Os fungos verdadeiros possuem quitina em sua parede, enquanto o Pythium contém celulose e b-glucanos. A membrana plasmática não contém esteróides, como o ergosterol, que é o componente-alvo de ação da maioria das drogas antifúngicas. Devido a essas características, as drogas antifúngicas tradicionais são ineficientes contra o P. insidiosum. No tratamento químico, as drogas mais utilizadas até o momento foram a anfotericina B, cetoconazol, miconazol, fluconazol e itraconazol, além dos compostos iodínicos como iodeto de potássio e sódio. ¹
O sucesso das outras formas de tratamento é variável, sendo influenciado pelo tamanho e duração da lesão, idade e estado nutricional do animal. O tratamento tradicional da pitiose eqüina é o cirúrgico, requerendo a excisão de toda área afetada. No entanto, isso é dificultado pelas estruturas anatômicas envolvidas, principalmente nos membros. Em geral, o tratamento cirúrgico apresenta bons resultados apenas em lesões pequenas e superficiais, nas quais seja possível a retirada de toda área afetada. ¹
Os resultados obtidos com as drogas antifúngicas têm sido variáveis, tanto in vitro como in vivo. Em um estudo, os poliênicos (anfotericina B, hamycin) não apresentaram atividade satisfatória, enquanto os azólicos fluconazol, cetoconazol e miconazol inibiram o crescimento in vitro de isolados de P. insidiosum. Em outro teste, as drogas anfotericina B, fluocitosina, miconazole e griseofulvina não inibiram o crescimento do fungo, enquanto o itraconazol apresentou atividade moderada e a terbinafina foi ativa contra o P. insidiosum. ²

6 Considerações Finais

Apesar de estudos recentes sobre a pitiose, ainda se desconhecem os mecanismos envolvidos na patogenia e na resposta imunológica do hospedeiro. Nesse sentido, o desenvolvimento de técnicas mais eficientes para o diagnóstico e monitoramento da resposta imunológica tem permitido avanços no conhecimento da resposta imunológica e o desenvolvimento de imunoterápicos para o tratamento da doença.
Em especial, a imunoterapia representa uma proposta promissora para o tratamento da doença e justifica estudos mais aprofundados para confirmar seu potencial.

7 Referências

1 Leal A T, Leal A B M, Flores E F, Santurio J M. Pitiose: revisão bibliográfica. Revista Ciência Rural [internet]. 2001 [citado em 2015 Abr 26]; 31(4): 735-743. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/cr/v31n4/a29v31n4.pdf

2 Leo V F, Dabus D M M, Lote R F E, Piccinin A. Pitiose em eqüinos. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária [internet]. 2008 [citado em 2015 Abr 26]; (10). Disponível em: http://faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/j3EeAHB4LhG6m82_2013-5-28-15-59-3.pdf

3 Luvizari F H, Lehmkuhl R C, Santos I W. Pitiose eqüina no estado do Paraná: primeiro relato de caso. Archives of Veterinary Science [internet]. 2002 [citado em 2015 Abr 26]; 7 (2): 99-102. Disponível em: http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs/index.php/veterinary/article/viewFile/3987/3227

4 Grecco F B, Schild A L, Quevedo P, Assis N D, Kommers G D, Pereira C M, Soares M P. Pitiose cutânea bovina na região sul do Rio Grande do Sul. Pesquisa Veterinária Brasileira [internet]. 2009 [citado em 2015 Abr 26]; 29 (11): 938-942. Disponível em: http://www.pvb.com.br/pdf_artigos/31-12-2009_23-12Vet694.pdf

5 Cescon G T, Carnesella S, Pegorini L N C, Nóbrega F S, Beck C A C, Driemeier D, Oliveira L O, Ferreira M P. Tratamento cirúrgico da pitiose cutânea em eqüino: relato de caso. 2002 [citado em 2015 Abr 26]. Disponível em: http://www.sovergs.com.br/conbravet2008/anais/cd/resumos/r0702-2.pdf
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