HIPOADRENOCORTICISMO EM CÃES E GATOS – REVISÃO DE
LITERATURA
Edilane C. Nascimento
1
INTRODUÇÃO
A insuficiência adrenal primária foi originalmente descrita
por Thomas Addison em 1855. É uma endocrinopatia resultante da
destruição progressiva das células do córtex adrenal e se manifesta,
predominantemente, como um quadro de insuficiência
glico e mineralocorticoide (SILVA & KATER, 1998).
As
glândulas adrenais são órgãos endócrinos localizados no tecido retroperitoneal
ao longo dos pólos craniais dos rins. Cada glândula é dividida em duas áreas
separadas, o córtex e a medula, que produzem diferentes tipos de hormônios.
Ambas possuem origem embriológica distinta, sendo que a medula surgiu do
neuroectoderma e produz catecolaminas como a noradrenalina e adrenalina, e o
córtex surgiu do epitélio celômico mesodérmico e produz hormônios esteróides, como cortisol,
corticosterona, aldosterona e esteróides sexuais (CERDEIRO, 2011).
O
córtex da adrenal é composto por três zonas: glomerular, fasciculada e reticular.
A zona glomerular é a camada externa da glândula adrenal, a única capaz de
secretar aldosterona e outros mineralocorticóides em função da enzima
aldosterona sintase. Ambas as zonas fasciculada e reticular sintetizam
andrógenos e cortisol, e ficam localizadas na camada central e interna das
glândulas adrenais, respectivamente (CERDEIRO, 2011).
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ETIOLOGIA
O hipoadrenocorticismo é uma deficiência de
mineralocorticoides, glicocorticoides, ou ambos. A insuficiência adrenocortical
primária (doença de addison) envolvendo uma deficiência de secreção tanto de
mineralocorticoides quanto de glicocorticoides é mais comum (NELSON &
COUTO, 2010).
A etiologia do hipoadrenocorticismo primário é classificada
usualmente como idiopática. A atrofia de todas as camadas do córtex adrenal é o
achado histopatológico mais frequente. É provável que ocorra destruição
imunomediada do córtex da adrenal na maioria dos cães e gatos com insuficiência
adrenal idiopática (NELSON & COUTO, 2010). Em virtude da adrenalite que já foi descrita em cães
com hipoadrenocorticismo primário espontâneo e pelos anticorpos antiadrenais já
relatados em outros cães, acredita-se que a causa imunomediada seja a etiologia
mais provável em caninos e felinos com hipoadrenocorticismo primário (CERDEIRO,
2011).
A
predisposição genética à doença é um fator que deve ser levado em consideração.
Estudos cães da raça Cão d‟água Português forneceram evidências de que a Doença
de Addison é um distúrbio hereditário nessa raça, determinado através de um locus autossômico recessivo (CERDEIRO,
2011).
A destruição bilateral do córtex da adrenal em razão de
neoplasia, doença granulomatosa, infarto hemorrágico, trombose arterial ou
fármacos como mitotano e o trilostano podem causar insuficiência adrenocortical
primária (NELSON & COUTO, 2010).
Acredita-se que no mínimo 90% dos córtices da adrenal devem
estar destruídas para que haja o desenvolvimento dos sinais clínicos. Uma
síndrome de deficiência parcial, caracterizada por reserva adrenal inadequada,
pode ocorrer inicialmente, com sinais clínicos manifestados somente durante os
momentos de estresse (NELSON & COUTO, 2010).
À medida que progride a destruição das glândulas adrenais, a
secreção hormonal torna-se inadequada, mesmo em condições sem considerável
estresse, e uma verdadeira crise metabólica ocorre sem qualquer evento óbvio
incitante (NELSON & COUTO, 2010).
Os mineraloscorticoides controlam a homeostasia sódica, potássica
e hídrica. No quadro de insuficiência adrenocortical primária, a falta de
secreção de aldosterona resulta em alteração na conservação renal de sódio e
cloreto e na excreção renal de potássio, levando ao desenvolvimento de
hiponatremia, hipocloremia e hipercalemia. A incapacidade de reter sódio e
cloreto causa a redução do volume de fluido extravascular, o que leva ao
desenvolvimento progressivo de hipovolemia, hipotensão, débito cardíaco
reduzido e diminuição na perfusão dos rins e outros tecidos. A hipercalemia tem
um efeito deletério sobre a função cardíaca, causando diminuição na
excitabilidade miocárdica, aumento refratário na condução miocárdica e condução
retardada (NELSON & COUTO, 2010).
Uma deficiência de glicocorticoide simultânea resulta, de
maneira típica, em sinais do trato gastrointestinal (p.ex. anorexia, emese,
perda de peso) e alterações no estado mental (letargia). Um dos principais
sinais é uma tolerância prejudicada ao estresse (NELSON & COUTO, 2010).
Uma deficiência de na secreção de glicocorticoides, mas não
de mineralocorticoides, é chamada de hipoadrenocorticismo atípico. A
deficiência de glicocorticoides, resultante da disfunção pituitária, e também
chamado de hipoadrenocorticismo secundário. As lesões destrutivas na glândula
pituitária ou hipotálamo, administração exógena de glicocorticoides por tempo
prolongado e perda de função idiopática são as causas mais comuns de insuficiência
adrenal secundaria (NELSON & COUTO, 2010).
A
ocorrência natural de hipoadrenocorticismo secundário pode ser causada por
deficiência de ACTH idiopática ou por lesões destrutivas no hipotálamo ou na
hipófise devido à neoplasia, trauma ou inflamação (CERDEIRO, 2011).
Em
felinos, não há relatos de ocorrência natural de hipoadrenocorticismo
secundário, porém, foram descritos casos de hipoadrenocorticismo secundário
iatrogênico após administração de glicocorticóides ou progestágenos (CERDEIRO,
2011).
3
ASPECTOS CLÍNICOS
3.1 Predisposição
O hipoadrenocorticismo é uma doença típica de cadelas jovens
de meia idade, com média de 4 a 6 anos. Os caninos com hipoadrenocorticismo
deficiente de glicocorticoides tendem a ser mais idosos no momento do diagnóstico
do que os com hipoadrenocorticismo deficiente em mineralocorticoides e
glicocorticoides. O hipoadrenocorticismo é raro em felinos (NELSON & COUTO,
2010).
Algumas raças predispostas são Great
Dane, Rottweiler, Cão d‟água Português, Poodle Standard, West Highland High
Terrier, Wheaton Terrier, Nova Scotia Duck Tolling Retrievers e Bearded Collies
(CERDEIRO, 2011).
3.2 Sinais clínicos e alterações no
exame físico
As manifestações clínicas mais comuns estão relacionadas às
alterações no trato gastrointestinal e no estado mental, e incluem letargia,
anorexia, emese e perda de peso. As anormalidades adicionais observadas no exame
físico podem incluir desidratação, bradicardia, pulsos femurais fracos e dor
abdominal (Tabela 1). Ocasionalmente os proprietários podem descrever uma
doença com fases de melhora e piora ou episódica. A hipovolemia, a azotemia
pré-renal e as arritmias cardíacas resultantes podem desencadear a crise
addisoniana, se a hiponatremia e a hipercalemia se tornarem mais intensas
(NELSON & COUTO, 2010).
Tabela 1 Sinais clínicos causados pelo
hipoadrenocorticismo em cães e gatos.
Cães
|
Felinos
|
Letargia*, anorexia*, emese*, fraqueza*, diarreia,
perda de peso, tremores, poliúria, polidipsia e dor abdominal.
|
Letargia*,
anorexia*, perda de peso*, emese, poliúria e polidipsia.
|
*Sinais clínicos mais comuns.
Fonte: NELSON & COUTO, 2010.
3.3 Patologia clínica
A hipercalemia, a hiponatremia e a hipocloremia são as
alterações eletrolíticas clássicas nos animais com insuficiência adrenal, e
talvez sejam as evidências mais importantes usadas, em última instância, para
estabelecer o diagnóstico de hipoadrenocorticismo (NELSON & COUTO, 2010).
A proporção sódio:potássio reflete as alterações nas
concentrações desses eletrólitos no soro e é usada frequentemente como um
instrumento diagnóstico para identificar a insuficiência adrenal. As alterações
eletrolíticas podem ser enganadoras. Concentrações eletrolíticas séricas
normais não excluem a insuficiência adrenal. As anormalidades podem não ser
evidentes nos estágios iniciais, quando os sinais clínicos resultam de
deficiência de glicocorticoides e quando ocorre a insuficiência adrenal secundária
(NELSON & COUTO, 2010).
A
relação sódio:potássio, que normalmente varia de 27:1 a 40:1 encontra-se
reduzida. Nos pacientes acometidos, as concentrações de sódio sérico variam de
normais a menores que 105 mEq/L e as concentrações de potássio variam de
normais a menores que 10 mEq/L nos cães e 5,7 a 7,6 mEq/L nos gatos. O valor de
referência de sódio em cães é de 141 a 153,2 mEq/L e o de potássio 3,9 a 5,65
mEq/L. Em gatos, o valor normal de sódio é de 145 a 157 mEq/L e o de potássio é
de 3,8 a 4,51 mEq/L (CERDEIRO, 2011).
Infecções
por Trichuris vulpis são relatadas como causa de uma pseudo doença de
Addison, em virtude desse parasita causar desbalanços eletrolíticos semelhantes
ao da doença, como hipercalemia e hiponatremia, além de sinais clínicos que
envolvem emese, diarréia, perda de peso e fraqueza (CERDEIRO, 2011).
A história e o exame físico completo associado à avaliação
crítica dos resultados do hemograma, do perfil bioquímico sérico e dos achados
da urinálise, permitem priorizar os possíveis diagnósticos diferenciais (NELSON
& COUTO, 2010).
Os sinais mais importantes do hipoadrenocorticismo incluem
ausência de leucograma de estresse, hipoalbuminemia, hipocolesterolemia, hipoglicemia
ou uma combinação desses (NELSON & COUTO, 2010).
Os achados hematológicos incluem a presença de anemia
normocítica normocrômica arregenerativa (que pode ser mascarada pela
desidratação), linfocitose (em até 10% dos casos) e eosinofilia (20% dos
pacientes). O clínico deve suspeitar de hipoadrenocorticismo se a contagem de
células brancas não revelar um leucograma de estresse, esperado em casos de
estresse e doenças crônicas (ROMÃO & ANTUNES, 2012).
O aspecto desafiador do diagnóstico é a diferenciação entre
falência renal aguda e insuficiência adrenal primária. A azotemia da
insuficiência adrenal ocorre secundariamente a redução da perfusão renal. O
aumento compensatório na densidade urinária ultrapassando 1030, permite
diferenciar a azotemia pré-renal da azotemia renal primária. Infelizmente
alguns animais hipoadrenais não tem a capacidade de concentrar a urina,
apresentando isostenúria. Felizmente o tratamento inicial da falência renal
aguda e similar ao implementado para insuficiência adrenal. A diferenciação
deve depender de testes do eixo pituitário-adrenocortical (NELSON & COUTO,
2010).
3.4 Eletrocardiografia
A hipercalemia deprime a condução cardíaca e causa
alterações características no eletrocardiograma. A gravidade das anormalidades
se correlaciona à gravidade da hipercalemia (NELSON & COUTO, 2010).
Em
uma situação de hipercalemia leve (> 5,5 mEq/L) há um pico da onda T. Quando
o potássio aumenta mais (> 6,5 mEq/L) há ampliação do complexo QRS,
diminuição da sua amplitude, aumento da duração da onda P e aumento do intervalo
P-R. Se a concentração de potássio aumentar acima de 8 a 8,5 mEq/L, haverá uma
completa perda das ondas P e fibrilação atrial ou assístole (CERDEIRO, 2011).
3.5 Diagnóstico por imagem
Os cães e gatos
hipoadrenais com hipovolemia evidente frequentemente apresentam microcardia,
achatamento e diminuição do diâmetro do arco aórtico descendente e
estreitamento da veia cava caudal, alterações observadas nas radiografias
torácicas. Megaesôfago generalizado simultâneo pode ser também evidente e pode
se resolver em resposta ao tratamento do hipoadrenocorticismo. A
ultrassonografia abdominal pode revelar glândulas adrenais pequenas, alteração
sugestiva de atrofia adrenocortical, todavia o encontro de glândulas adrenais
normais não exclui o diagnóstico de hipoadrenocorticismo (NELSON & COUTO,
2010).
Acredita-se
que a ligação entre o megaêsofago e o hipoadrenocorticismo esteja na debilidade
muscular em virtude da deficiência de glicocorticoides (CERDEIRO, 2011).
4
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico de hipoadrenocorticismo é feito com base na
história; aspectos clínicos; achados clinicopatológicos e, no caso de
hipoadrenocorticismo primário, na identificação de anormalidades eletrolíticas.
Resultados do teste de estimulação pelo ACTH (hormônio adrenocorticotrópico)
confirmam o diagnóstico (Tabela 2), como uma concentração sérica de cortisol pós-ACTH
menor que 2μg/dL,
concentração de 4μg/dL
é inconcistente e valores entre 2 e 4μg/dL
é inconcludente (podem ocorrer com a insuficiência adrenal relativa, síndrome
definida como produção inadequada de cortisol em relação à maior demanda
durante períodos de doenças criticas) (NELSON & COUTO, 2010).
Deve-se
administrar 0,25 mg de α 1-24 cosyntropin (ACTH sintético) por via
intramuscular ou intravenosa em cães e 0,125 mg em gatos, pelas mesmas vias.
Após 45-60 minutos deve-se realizar uma nova colheita de sangue para
determinação de cortisol plasmático (CERDEIRO, 2011).
Tabela 2 Diferenciação entre
hipoadrenocorticismo primário e secundário.
|
Hipoadrenocorticismo primário
|
Hipoadrenocorticismo primário atípico
|
Hipoadrenocorticismo secundário
|
Cortisol
pós-estimulação por ACTH
|
Diminuído
|
Diminuído
|
Diminuído
|
Aldosterona
pós-estimulação por ACTH
|
Diminuída
|
Normal
|
Normal
|
ACTH endógeno
|
Aumentado
|
Aumentado
|
Diminuído
|
Fonte:
NELSON & COUTO, 2010.
Os resultados do teste de estimulação por ACTH não
deferência nos caninos e felinos a insuficiência adrenal primária natural, a
insuficiência secundária por falência da pituitária, a insuficiência secundária
iatrogênica (administração de corticoides ou glicocorticoides) e nem de cães com
destruição adrenocortical primária causada por superdosagem de mitotano ou
trilostano (NELSON & COUTO, 2010).
Concentrações
de ACTH acima dos valores de referência, que variam de 2,2 a 20 pmol/L,
confirmam o diagnóstico de hipoadrenocorticismo primário, enquanto que
concentrações abaixo da referência caracterizam hipoadrenocorticismo
secundário. Outro teste para diferenciação da insuficiência adrenal primária e
secundária é o da aldosterona plasmática. As concentrações de aldosterona
normais indicam hipoadrenocorticismo secundário enquanto que as concentrações
abaixo do normal indicam primário (CERDEIRO, 2011).
Se o hipoadrenocorticismo secundário puder ser comprovado,
somente o tratamento de reposição com glicocorticoides será indicado. Esta
diferenciação pode ser feita através da mensuração de eletrólitos, concentração
basal de ACTH endógeno ou pela mensuração de aldosterona durante o teste de
estimulação por ACTH (NELSON & COUTO, 2010).
5
TRATAMENTO
A agressividade do tratamento depende, em parte, do estado
clínico do animal e da natureza da insuficiência (glicocorticoide ou
mineralocorticoide ou, ambos) (NELSON & COUTO, 2010).
5.1 Tratamento para a crise
addisoniana aguda
A crise addisoniana aguda envolve tanto a deficiência
mineralocorticoide quanto a glicocorticoide. O tratamento da insuficiência
adrenal primária aguda é dirigido para a correção da hipotensão, hipovolemia,
desequilíbrios eletrolíticos e a acidose metabólica; melhorar a integridade
vascular; e fornecer uma fonte imediata de glicocorticoides (NELSON &
COUTO, 2010).
A solução salina fisiológica é o fluido IV (intravenoso) de
escolha porque auxilia na correção da hipovolemia, da hiponatremia e da
hipocloremia, deve ser feito na dose de 40 a 80 mL/kg/h, inicialmente. A
hipercalemia é reduzida pela diluição e pela melhora da perfusão renal (NELSON
& COUTO, 2010).
Se houver suspeita ou confirmação de hipoglicemia, deve-se
adicionar dextrose a 50% ao fluido IV (solução de dextrose a 5%). Os caninos e
felinos com insuficiência adrenal aguda normalmente apresentam uma leve acidose
metabólica, que não necessita de tratamento e a fluidoterapia por si já
corrige-a. se a concentração de bicarbonato sérico for menor que 12 mEq/L,
indica-se o tratamento conservador à base de bicarbonato (NELSON & COUTO,
2010). Os miliequivalentes de bicabornato necessários para corrigir a acidose
podem ser determinados pela seguinte equação:
Déficit de bicabornato (mEq/L) = Peso
corpóreo (Kg) x 0,5 x
Déficit de base (mEqL)
Um quarto da dose calculada de bicabornato deve ser
administrada nos fluidos IV durante as 6 a 8 horas iniciais de tratamento
(NELSON & COUTO, 2010).
O tratamento com glicocorticoide e mineralocorticoide é
indicado também no manejo inicial da crise addisoniana aguda. Os
glicocorticoides não devem ser administrados até que se realize o teste de
estimulação pelo ACTH. A dexametasona não interfere no teste de cortisol e pode
ser útil se o tratamento com glicocorticoides não puder ser retardado; ela pode
ser administrada IV na dose inicial de 0,5 a 1,0 mg/Kg e repetido a cada 12
horas na dose de 0,05 a 0,1 mg/Kg na solução IV (NELSON & COUTO, 2010).
Os suplementos mineralocorticoides atualmente disponíveis
incluem o DOCP (Pivalato de desoxicorticosterona) e o acetato de
fludrocortisona. O DOCP é administrado na dose de 2,2 mg/kg por via IM ou SC,
inicialmente a cada 25 dias (NELSON & COUTO, 2010).
A maioria dos cães e gatos com insuficiência adrenal aguda
mostra melhora clínica e bioquímica acentuada em 24 a 48 horas. Nos 2 a 4 dias
seguintes deve-se fazer a transição gradual trocando-se a ingestão de fluidos
IV por alimento e água por via oral. Além disso, o tratamento de manutenção
deve ser iniciado com o glicocorticoide e mineralocorticoide (NELSON &
COUTO, 2010).
5.2 Tratamento de manutenção para a
insuficiência adrenal primária
Os mineralocorticoides, e usualmente os glicocorticoides,
são necessários para a manutenção de um cão ou gato com insuficiência adrenal primária.
A suplementação mineralocorticoide preferida é o DOCP injetável, que libera 1
mg/dia/25 mg de suspensão. A dose inicial é de 2,2 mg/kg, administrado por via
IM (intramuscular) ou SC (subcutâneo), a cada 25 dias. Os ajustes subsequentes
serão feitos com base nas concentrações séricas dos eletrólitos, mensuradas 12
e 25 dias após cada uma das 2 ou 3 primeiras injeções. A única reação adversa é
poliúria e polidipsia (NELSON & COUTO, 2010).
As desvantagens do DOPC são inconveniência e custo,
associados às visitas mensais ao veterinário. Assim que o cão ou gato estiver
estável a quantidade de DOPC pode sofrer decréscimo de 10%, devendo-se
identificar a dose mais baixa que mantenha o animal saudável (NELSON &
COUTO, 2010).
O acetato de fludrocortisona é outro suplemento
mineralocorticoide comumente usado. A dose inicial é de 0,02 mg/kg/dia,
divididos em duas doses, administrados por via oral (tipicamente necessita de
aumento na dose). As suas maiores desvantagens são grande variação nas doses
para controle da concentração de eletrólitos, desenvolvimento de poliúria,
polidipsia e incontinência, resistência ao medicamento e persistente hipercalemia
e hiponatremia leves (NELSON & COUTO, 2010).
A suplementação com glicocorticoides é indicada inicialmente
para todos caninos e felinos com insuficiência adrenal primária. A prednisona
(cães) e a prednisolona (gatos) é administrada na dose inicial de 0,25 mg/kg
duas vezes ao dia. Nos 1 a 2 meses seguintes a dose deve ser gradualmente
reduzida, para a menor dose eficaz. Todos os proprietários devem ter
glicocorticoides disponíveis para administrar a seus animais nos períodos de
estresse (dose dobrada) (NELSON & COUTO, 2010).
Em caso de insuficiência adrenal secundária ocasionada pela
administração excessiva de glicocorticóides ou acetato de megestrol, deve-se
reduzir a dose das medicações até interrupção do uso. A mensuração de
eletrólitos periodicamente é recomendada, uma vez que a doença pode evoluir
para uma insuficiência adrenal primária (CERDEIRO, 2011).
Para animais com pseudo doença de Addison ocasionada pelo
nematódeo Trichuris vulpis, um antiparasitário deve ser administrado. A
milbemicina oxima é eficaz contra o parasito e deve ser utilizada na dose de
0,7 mg/kg, via oral, dose única (CERDEIRO, 2011).
5.3 Prognóstico
O prognóstico para cães e gatos com insuficiência adrenal é
usualmente excelente. O fator mais importante na determinação da resposta do
paciente ao tratamento de longa duração é a educação do proprietário (NELSON
& COUTO, 2010).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar de ser uma doença de relativa
baixa ocorrência, a síndrome de Addison deve ser sempre considerada como um dos
diagnósticos diferenciais de distúrbios gastrointestinais inespecíficos, como
êmese, hiporexia e diarréia, por exemplo, pois a rápida intervenção do clínico
permite uma melhor condução da terapia e, consequentemente, do prognóstico do animal.
A falta de tratamento adequado ao paciente com a doença de
Addison pode levá-lo ao desenvolvimento da crise addissoniana e consequentemente
à morte em virtude de choque hipovolêmico. Por isso, é preciso que os clínicos
estejam cientes dos sinais clínicos, por mais inespecíficos que eles sejam, e
saibam diagnosticar e tratar o paciente devidamente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CERDEIRO A P dos S. Hipoadrenocorticismo em cães e gatos –
revisão. 2011 [Monografia]. Curitiba, Universidade Tuiuti do Paraná.
NELSON, R.W.;COUTO, C.G. Medicina Interna de Pequenos Animais.
Rio de Janeiro: Elsevier. 4a ed; 2010.
ROMÃO FG, ANTUNES MIPP.
Hipoadrenocorticismo em cães: revisão. Vet. e Zootec. 2012 março; 19(1):
044-054.
SILVA, R. C.; KATER, C. E. Doença de Addison de
Etiologia Auto-imune. Arq Bras
Endocrinol. 42:(6); 1998, 431-43.
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