sexta-feira, 28 de novembro de 2014

TRICHOMONAS: IMPORTÂNCIA NA VETERINÁRIA E SAÚDE PÚBLICA


1 Introdução

As parasitoses ainda hoje tem grande impacto na saúde dos animais e do homem, tornando necessários estudos sobre esses organismos e seus mecanismos de lesão aos seus hospedeiros. A popularização dos animais de estimação é um dos fatores que contribui para a perpetuação da transmissão de parasitos entre os animais e o homem. No Brasil, são diversos endo e ectoparasitos que podem acometer os homens e os animais, porém ainda assim essa diversidade é subestimada devido a falhas na correta detecção das espécies envolvidas. O médico veterinário é de fundamental importância para o tratamento dessas doenças nos animais e prevenção das mesmas, tanto nos animais quanto no homem.
O presente trabalho teve como objetivo reunir alguns estudos publicados no Brasil sobre os protozoários da família Trichomonadidae, abordando principalmente a sua prevalência e formas de prevenção das parasitoses em geral.


2 Desenvolvimento

Segundo Torres e Otranto (2014) a definição de parasito é aquele organismo que se beneficia de outro (hospedeiro) sem oferecer algo em troca, e usualmente causando dano a esse hospedeiro. Os parasitos compõem um vasto grupo de organismos capazes de afetarem diversos hospedeiros, como aves, anfíbios, répteis, mamíferos, aves, entre outros. Podem dividir-se em endoparasitos e ectoparasitos de acordo com o local que ocupam no hospedeiro ou em permanentes e não permanentes, dependendo do seu ciclo de vida.
A popularização dos animais de estimação, principalmente cães e gatos, que têm se tornado membros das famílias humanas, assim como a utilização destes como guias para deficientes visuais, agentes terapêuticos ou como cães de guarda e de caça trás benefícios indiscutíveis, porém os cães e gatos podem ser hospedeiros de uma vasta gama de parasitos, que podem afetar tanto a saúde e o bem-estar desses animais quanto à do ser humano, principalmente idosos, crianças e imunodeprimidos. Dentre esses parasitos, incluem-se os ectoparasitos, como pulgas, piolhos, carrapatos e ácaros e os endoparasitos, como protozoários, cestódeos, trematódeos e nematódeos. Sendo assim, esses parasitos são importantes tanto na medicina veterinária quanto na humana, demandando, portanto maiores estudos, para que o diagnóstico e controle desses parasitos possa ser feito de maneira eficaz. (McCONNELL,2001 & IRWIN,2002 citado por TORRES & OTRANTO, 2014).
Mesmo no século XXI as doenças parasitárias continuam a causar significativo impacto sobre as populações humanas e animais nas regiões tropicais e subtropicais do mundo. Constata-se ainda que o impacto de tais doenças é ainda maior em países em desenvolvimento, como o Brasil, onde diversos fatores favorecem à exposição a certos parasitos, cuja transmissão está geralmente associada a pobres condições higiênico-sanitárias e de moradia, assim como a falhas no acesso a educação e a serviços primários de saúde (PUULAN & BROOKER, 2008; DEN BOER  et al, 2011; LUSTIGMAN,2012 citado por TORRES & OTRANTO, 2014).
No Brasil os cães e gatos podem ser acometidos por uma grande diversidade de endoparasitos, incluindo protozoários, trematódeos, cestódeos e nematódeos, porém ainda assim essa variedade certamente é subestimada, devido principalmente às técnicas utilizadas na detecção e identificação e ovos e oocistos em amostras de fezes, uma vez que são necessárias técnicas diagnósticas adicionais para podermos conhecer a real diversidade e prevalência de endoparasitos de cães e gatos no Brasil (TORRES & OTRANTO, 2014). As parasitoses gastrintestinais encontram-se entre as enfermidades mais comuns e importantes em cães neonatos e jovens, sendo que os helmintos Toxocara sp, causadora da síndrome da  larva migrans visceral em humanos e Ancylostoma sp, causadora da síndrome da larva migrans cutânea também em humanos, devido ao seu potencial zoonóticos são considerados problemas em saúde pública (SANTATARÉM; GIUFRIDA; ZANIN,200; NUNES et al,2000 & HENDRIX,1996  citados por SANTOS et al,2007). Protozoários, como a Giardia sp e o Crystosporidium sp também são consideradas agentes infecciosos importantes para cães e seres humanos. Nos animais é comum a infestação mista por mais de um tipo de endoparasita uma vez que uma infecção normalmente abre caminhos para outras devido ao imunocomprometimento do animal (SANTOS et al,2007).
Os Trichomonas são protozoários obrigatoriamente simbióticos dos vertebrados, e caracterizam-se morfologicamente pelo formato piriforme, contendo quatro a seis flagelos anteriores e um recorrente (OLSEN,1991  citado por MILKEN et al 2008).  A família Trichomonadidae possui espécies patogênicas e comensais, entre elas incluem-se o Pentatrichomonas hominis, considerado comensal do intestino grosso e o Trichomonas vaginalis, patogênico para humanos, onde infecta o aparelho genitourinário e comensal do aparelho bucal nos animais. (DAVAINE, 1860; BATISTA;BORGES,2005 citados por MILKEN, 2008). Há variedades de Trichomonas que parasitam vários grupos de animais, como por exemplo, o Trichomonas suis que pode parasitar a cavidade nasal, estômago, ceco, cólon e ocasionalmente o intestino delgado dos suínos domésticos. O trato digestivo superior e vários outros órgão de aves podem ser acometidos pelo Trichomonas gallinae. Outras espécies do protozoário parasitam répteis, peixes e anfíbios (NEVES, 1998 citado por MILKEN,2008). Segundo Riedmuller (1928), Goookin et al (1999) e Levy et al (2003) citado por Millen (2008) o Trichomonas foetus, que pode ser encontrado no trato genital de bovinos e zebuínos foi recentemente identificado como patógeno intestinal em gatos domésticos. Pentatrichomonas hominis possui cinco flagelos e pode ser encontrado em fezes de gatos e cães, onde facilmente pode ser confundido com trofozoítas de Giadria lamblia. São comensais e possuem ciclo de vida direto, sua transmissão geralmente ocorre pela via fecal-oral (JERGENS; WILLARD, 2004 citado por MILKEN,2008).
Em estudo feito em cães na Univerisade Estadual de Londrina foi evidenciada a presença de Pentatrichomonas hominis em 3,3% das amostras positivas provenientes de cães com diarreia, sendo que em 1,3% dessas amostras o protozoário foi encontrado em infecção única, em outros 1,3% em associação com Entamoeba sp. e  em 0,7% em associação com Entamoeba sp. e Giardia sp. A falta de relatos anteriores da ocorrência deste parasito pode ser devido à falhas nas técnicas empregadas no diagnóstico, porém o o estudo em questão evidenciou a ocorrência de amostras positivas em animais com menos de um ano e na maioria das vezes em associação a outros agentes, o que reafirma a característica oportunista de Pentatrichomonas hominis. Além disso, deve-se considerar o potencial zoonótico do agente (SANTOS et al,2007). Ainda segundo Santos et al (2007) as infecções mistas são relatadas com frequência em estudos envolvendo cães com diarreia aguda, devido à debilidade orgânica que a infecção de um cão filhote ou jovem por um parasito pode causar, favorecendo a instalação de um segundo agente, podendo também refletir a infecção maternal ou a contaminação ambiental.
Segundo Andrade et al. (2010) citado por Santos (2013), o tratamento das parasitoses intestinais é feito através do emprego de antiparasitários e em medidas de educação preventiva e saneamento básico. Devido à dificuldade e muitas vzes a falta de diagnóstico específico das parasitoses, estas costumam ser tratadasde foma empírica,  utilizando-se mais de uma droga. Nos últimos 25 anos poucos avanços na no desenvolvimento de novos antiparasitários foram obtidos, sendo que a resistência de algumas cepas às drogas pode ter se agravado. O tratamento das protozooses intestinais, como a giardíase e a amebíase no homem normalmente é feito com derivados nitroimidazólicos, como por exemplo o metronidazol, já no tratamento das helmintses humanas preconiza-se a utilização de derivados benzimidazólicos, como fenbendazol, mebendazol e albendazol, que devido ao seu amplo espectro de ação também são eficazes no tratamento das giardíases. Em animais os efeitos colaterais apresentados em humanos não são comumente relatados.
Devido ao potencial zoonótico das parasitoses de pequenos animais a prevenção destas torna-se imprescindível, e o médico veterinário tem papel fundamental nesse processo. São necessários estudos epidemiológicos para o conhecimento das espécies mais comuns em cada região, ou até mesmo em canis para se obter melhor definição das medidas de controle e prevenção das doenças parasitárias em animais e seres humanos que convivem juntos nesses ambientes. Além disso, é essencial ao médico veterinário conhecer as pequenas diferenças nas formas de transmissão, fontes de infecção, grupo de susceptibilidade, e características inerentes ao sistema imunológico dos indivíduos para que seja possível o delineamento de estratégias para a redução do risco de infecções parasitárias comuns ao homem e aos animais.  A prevenção baseia-se em melhorias das condições ambientais, mediante a eliminação de excrementos adequadamente para evitar a contaminação do solo (ACHA; SZYFRES,2003 citado por SANTOS,2013).


3 Considerações Finais

            O impacto causado na saúde pública pelas doenças causadas por protozoários, assim como na saúde dos animais serve de alerta para que os profissionais da área médica estabeleçam medidas preventivas a essas doenças. Como foi relatado no presente estudo, um significante número de protozoários que parasitam os animais podem ser transmitidos ao homem e causar doença clínica, sendo assim a prevenção de tais parasitoses visa não somente a saúde dos animais, mas também a saúde pública. O médico veterinário possui papel fundamental nessa prevenção, atuando no tratamento dos animais acometidos e na redução dos riscos de contaminação através de medidas socioeducativas que reduzam a ocorrência desses patógenos no ambiente.



4 Referência Bibliográficas

MILKEN, V.M.F, BASTOS, J.E.D., MIRANDA,R.L., BARBOSA, T.S., ZAVANELLA, C.M., CABRAL, D.D. Presença de Trichomonas em urinálise de cães e gato. Bisci. J., Uberlândia, v. 24, n.2, p.110-112, apr/jun. 2008;
SANTOS, F.A.G., YAMAMURA,M.H., VIDOTTO, O., CAMARGO,P.L. Ocorrência de parasitos gastrintestinais em cães (Canis familiaris) com diarreia aguda da regiãometropolitana de Londrina, Estado do Paraná, Brasil. Semina: Ciências agrárias, Londrina, V.28, n.2, p.257-268, abr/jun. 2007;
SANTOS, S.M. Levantamento de parasitos gastrintestinais em cães na cidade de Joinville – SC. 2013. 36p. Tese (Pós-Graduação, Especialização em Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais) – Centro de estudos superiores de Maceió, Fundação Educacional Jayme de Altavila, Curitiba/PR, 2013.

TORRES, F.D., OTRANTO, D. Cães, gatos, parasitos e humanos no Brasil: abrindo a caixa preta. Parasites and vectores. n°22, volume 7, 2014. Disponível em: http://parasiteandvectores.com/content/7/1/22. Acesso em: 20/11/2014. 
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