1 Introdução
As
parasitoses ainda hoje tem grande impacto na saúde dos animais e do homem,
tornando necessários estudos sobre esses organismos e seus mecanismos de lesão
aos seus hospedeiros. A popularização dos animais de estimação é um dos fatores
que contribui para a perpetuação da transmissão de parasitos entre os animais e
o homem. No Brasil, são diversos endo e ectoparasitos que podem acometer os
homens e os animais, porém ainda assim essa diversidade é subestimada devido a
falhas na correta detecção das espécies envolvidas. O médico veterinário é de
fundamental importância para o tratamento dessas doenças nos animais e
prevenção das mesmas, tanto nos animais quanto no homem.
O
presente trabalho teve como objetivo reunir alguns estudos publicados no Brasil
sobre os protozoários da família Trichomonadidae,
abordando principalmente a sua prevalência e formas de prevenção das
parasitoses em geral.
2
Desenvolvimento
Segundo
Torres e Otranto (2014) a definição de parasito é aquele organismo que se
beneficia de outro (hospedeiro) sem oferecer algo em troca, e usualmente
causando dano a esse hospedeiro. Os parasitos compõem um vasto grupo de
organismos capazes de afetarem diversos hospedeiros, como aves, anfíbios,
répteis, mamíferos, aves, entre outros. Podem dividir-se em endoparasitos e
ectoparasitos de acordo com o local que ocupam no hospedeiro ou em permanentes
e não permanentes, dependendo do seu ciclo de vida.
A
popularização dos animais de estimação, principalmente cães e gatos, que têm se
tornado membros das famílias humanas, assim como a utilização destes como guias
para deficientes visuais, agentes terapêuticos ou como cães de guarda e de caça
trás benefícios indiscutíveis, porém os cães e gatos podem ser hospedeiros de
uma vasta gama de parasitos, que podem afetar tanto a saúde e o bem-estar
desses animais quanto à do ser humano, principalmente idosos, crianças e
imunodeprimidos. Dentre esses parasitos, incluem-se os ectoparasitos, como pulgas,
piolhos, carrapatos e ácaros e os endoparasitos, como protozoários, cestódeos,
trematódeos e nematódeos. Sendo assim, esses parasitos são importantes tanto na
medicina veterinária quanto na humana, demandando, portanto maiores estudos,
para que o diagnóstico e controle desses parasitos possa ser feito de maneira
eficaz. (McCONNELL,2001 & IRWIN,2002 citado por TORRES & OTRANTO,
2014).
Mesmo
no século XXI as doenças parasitárias continuam a causar significativo impacto
sobre as populações humanas e animais nas regiões tropicais e subtropicais do
mundo. Constata-se ainda que o impacto de tais doenças é ainda maior em países
em desenvolvimento, como o Brasil, onde diversos fatores favorecem à exposição
a certos parasitos, cuja transmissão está geralmente associada a pobres
condições higiênico-sanitárias e de moradia, assim como a falhas no acesso a
educação e a serviços primários de saúde (PUULAN & BROOKER, 2008; DEN
BOER et al, 2011; LUSTIGMAN,2012 citado
por TORRES & OTRANTO, 2014).
No
Brasil os cães e gatos podem ser acometidos por uma grande diversidade de
endoparasitos, incluindo protozoários, trematódeos, cestódeos e nematódeos,
porém ainda assim essa variedade certamente é subestimada, devido
principalmente às técnicas utilizadas na detecção e identificação e ovos e
oocistos em amostras de fezes, uma vez que são necessárias técnicas
diagnósticas adicionais para podermos conhecer a real diversidade e prevalência
de endoparasitos de cães e gatos no Brasil (TORRES & OTRANTO, 2014). As
parasitoses gastrintestinais encontram-se entre as enfermidades mais comuns e
importantes em cães neonatos e jovens, sendo que os helmintos Toxocara sp, causadora da síndrome
da larva migrans visceral em humanos e Ancylostoma
sp, causadora da síndrome da larva migrans
cutânea também em humanos, devido ao seu potencial zoonóticos são considerados
problemas em saúde pública (SANTATARÉM; GIUFRIDA; ZANIN,200; NUNES et al,2000
& HENDRIX,1996 citados por SANTOS et
al,2007). Protozoários, como a Giardia sp
e o Crystosporidium sp também são
consideradas agentes infecciosos importantes para cães e seres humanos. Nos
animais é comum a infestação mista por mais de um tipo de endoparasita uma vez
que uma infecção normalmente abre caminhos para outras devido ao
imunocomprometimento do animal (SANTOS et al,2007).
Os
Trichomonas são protozoários
obrigatoriamente simbióticos dos vertebrados, e caracterizam-se
morfologicamente pelo formato piriforme, contendo quatro a seis flagelos
anteriores e um recorrente (OLSEN,1991
citado por MILKEN et al 2008). A
família Trichomonadidae possui
espécies patogênicas e comensais, entre elas incluem-se o Pentatrichomonas hominis, considerado comensal do intestino grosso
e o Trichomonas vaginalis, patogênico
para humanos, onde infecta o aparelho genitourinário e comensal do aparelho
bucal nos animais. (DAVAINE, 1860; BATISTA;BORGES,2005 citados por MILKEN,
2008). Há variedades de Trichomonas
que parasitam vários grupos de animais, como por exemplo, o Trichomonas suis que pode parasitar a
cavidade nasal, estômago, ceco, cólon e ocasionalmente o intestino delgado dos
suínos domésticos. O trato digestivo superior e vários outros órgão de aves
podem ser acometidos pelo Trichomonas
gallinae. Outras espécies do protozoário parasitam répteis, peixes e
anfíbios (NEVES, 1998 citado por MILKEN,2008). Segundo Riedmuller (1928),
Goookin et al (1999) e Levy et al (2003) citado por Millen (2008) o Trichomonas foetus, que pode ser
encontrado no trato genital de bovinos e zebuínos foi recentemente identificado
como patógeno intestinal em gatos domésticos. Pentatrichomonas hominis possui cinco flagelos e pode ser
encontrado em fezes de gatos e cães, onde facilmente pode ser confundido com
trofozoítas de Giadria lamblia. São
comensais e possuem ciclo de vida direto, sua transmissão geralmente ocorre
pela via fecal-oral (JERGENS; WILLARD, 2004 citado por MILKEN,2008).
Em
estudo feito em cães na Univerisade Estadual de Londrina foi evidenciada a
presença de Pentatrichomonas hominis
em 3,3% das amostras positivas provenientes de cães com diarreia, sendo que em
1,3% dessas amostras o protozoário foi encontrado em infecção única, em outros
1,3% em associação com Entamoeba sp.
e em 0,7% em associação com Entamoeba sp. e Giardia sp. A falta de relatos anteriores da ocorrência deste
parasito pode ser devido à falhas nas técnicas empregadas no diagnóstico, porém
o o estudo em questão evidenciou a ocorrência de amostras positivas em animais
com menos de um ano e na maioria das vezes em associação a outros agentes, o
que reafirma a característica oportunista de Pentatrichomonas hominis. Além disso, deve-se considerar o
potencial zoonótico do agente (SANTOS et al,2007). Ainda segundo Santos et al
(2007) as infecções mistas são relatadas com frequência em estudos envolvendo
cães com diarreia aguda, devido à debilidade orgânica que a infecção de um cão
filhote ou jovem por um parasito pode causar, favorecendo a instalação de um
segundo agente, podendo também refletir a infecção maternal ou a contaminação
ambiental.
Segundo
Andrade et al. (2010) citado por Santos (2013), o tratamento das parasitoses
intestinais é feito através do emprego de antiparasitários e em medidas de
educação preventiva e saneamento básico. Devido à dificuldade e muitas vzes a
falta de diagnóstico específico das parasitoses, estas costumam ser tratadasde
foma empírica, utilizando-se mais de uma
droga. Nos últimos 25 anos poucos avanços na no desenvolvimento de novos
antiparasitários foram obtidos, sendo que a resistência de algumas cepas às
drogas pode ter se agravado. O tratamento das protozooses intestinais, como a
giardíase e a amebíase no homem normalmente é feito com derivados
nitroimidazólicos, como por exemplo o metronidazol, já no tratamento das
helmintses humanas preconiza-se a utilização de derivados benzimidazólicos,
como fenbendazol, mebendazol e albendazol, que devido ao seu amplo espectro de
ação também são eficazes no tratamento das giardíases. Em animais os efeitos
colaterais apresentados em humanos não são comumente relatados.
Devido
ao potencial zoonótico das parasitoses de pequenos animais a prevenção destas
torna-se imprescindível, e o médico veterinário tem papel fundamental nesse
processo. São necessários estudos epidemiológicos para o conhecimento das espécies
mais comuns em cada região, ou até mesmo em canis para se obter melhor
definição das medidas de controle e prevenção das doenças parasitárias em
animais e seres humanos que convivem juntos nesses ambientes. Além disso, é
essencial ao médico veterinário conhecer as pequenas diferenças nas formas de
transmissão, fontes de infecção, grupo de susceptibilidade, e características
inerentes ao sistema imunológico dos indivíduos para que seja possível o
delineamento de estratégias para a redução do risco de infecções parasitárias
comuns ao homem e aos animais. A
prevenção baseia-se em melhorias das condições ambientais, mediante a
eliminação de excrementos adequadamente para evitar a contaminação do solo
(ACHA; SZYFRES,2003 citado por SANTOS,2013).
3
Considerações Finais
O impacto causado na saúde pública
pelas doenças causadas por protozoários, assim como na saúde dos animais serve
de alerta para que os profissionais da área médica estabeleçam medidas
preventivas a essas doenças. Como foi relatado no presente estudo, um
significante número de protozoários que parasitam os animais podem ser
transmitidos ao homem e causar doença clínica, sendo assim a prevenção de tais
parasitoses visa não somente a saúde dos animais, mas também a saúde pública. O
médico veterinário possui papel fundamental nessa prevenção, atuando no
tratamento dos animais acometidos e na redução dos riscos de contaminação
através de medidas socioeducativas que reduzam a ocorrência desses patógenos no
ambiente.
4 Referência
Bibliográficas
MILKEN, V.M.F,
BASTOS, J.E.D., MIRANDA,R.L., BARBOSA, T.S., ZAVANELLA, C.M., CABRAL, D.D.
Presença de Trichomonas em urinálise de cães e gato. Bisci. J., Uberlândia, v. 24, n.2, p.110-112, apr/jun. 2008;
SANTOS, F.A.G., YAMAMURA,M.H.,
VIDOTTO, O., CAMARGO,P.L. Ocorrência de parasitos gastrintestinais em cães (Canis familiaris) com diarreia aguda da
regiãometropolitana de Londrina, Estado do Paraná, Brasil. Semina: Ciências agrárias, Londrina, V.28, n.2, p.257-268, abr/jun.
2007;
SANTOS, S.M. Levantamento de parasitos gastrintestinais
em cães na cidade de Joinville – SC. 2013. 36p. Tese (Pós-Graduação,
Especialização em Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais) – Centro de
estudos superiores de Maceió, Fundação Educacional Jayme de Altavila,
Curitiba/PR, 2013.
TORRES, F.D.,
OTRANTO, D. Cães, gatos, parasitos e humanos no Brasil: abrindo a caixa preta. Parasites and vectores. n°22, volume 7,
2014. Disponível em: http://parasiteandvectores.com/content/7/1/22. Acesso em:
20/11/2014.
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